Arena otimizada
Da antiga estrutura do Palestra Itália sobrou apenas o terreno com a mesma metragem, o formato de ferradura e algumas edificações destinadas ao setor administrativo e a práticas esportivas. O estádio foi todo modernizado em termos de estrutura, fachadas, arquibancadas, cobertura, layout e múltiplas funções. “Fomos convidados para tropicalizar o projeto, e acabamos refazendo ele inteiro”, comenta o arquiteto Edo Rocha, responsável pela obra desenvolvida em parceria com a construtora WTorre.
“Fomos convidados para tropicalizar o projeto, e acabamos refazendo ele inteiro.”
Edo Rocha
A nova arena, além de acomodar 45 mil pessoas durante os jogos de futebol – uma capacidade bem acima dos 25 mil expectadores de antes – estará preparada para receber shows. O espaço projetado para ser flexível permite a montagem do palco para eventos mesmo durante uma partida de futebol e poderá receber entre 10 mil e 60 mil pessoas, quando o gramado também será utilizado. Limitado pelo terreno de pouco mais de 90 mil m², o tamanho do Palestra Itália pode ser considerado pequeno em comparação aos novos estádios projetados para a Copa de 2014. O fato de estar localizado em uma área central da cidade de São Paulo descartou a possibilidade de ampliação do terreno, mas despertou no arquiteto Edo Rocha soluções compensadoras para otimizar o espaço e garantir conforto aos usuários.
Arquibancada retrátil
Uma das soluções beneficia o acesso e a saída das pessoas durante grandes eventos. São as arquibancadas retráteis, localizadas próximas aos ‘vomitórios’, expressão utilizada para designar os espaços próximos aos acessos. “São cinco lugares ao todo, nos quais as cadeiras se recolhem inteiramente para facilitar o fluxo de entrada e saída de usuários em grandes shows”, explica Edo.
Ao ser acionado, o sofisticado sistema retrátil ‘faz desaparecer’ aproximadamente cento e cinquenta assentos, sendo apontado pelo arquiteto como uma tecnologia eficaz, embora não muito explorada no Brasil.
Concreto e aço
A escolha de uma estrutura formada por pilares de concreto pré-moldado apoia-se na flexibilidade oferecida pelo material, que favorece a montagem e a rapidez no processo. Já a cobertura foi feita com vigas metálicas treliçadas. O apoio é dado por quatro vigas mestras, tanto na parte interna como externa da edificação. Elas possibilitam a instalação de escadas rolantes, saídas de emergência e caixas d’água, localizadas no topo. No piso, uma pintura de alta resistência cobriu o cimento, criando um efeito de simplicidade e sofisticação. As vedações verticais são feitas com fechamentos metálicos ondulados – alumínio ou inox – de diferentes tamanhos. A carenagem externa, totalmente em aço inox perfurado, atribui à arena uma couraça forte com bela textura, que lembra uma trama com espaços vazados, como se fosse um cesto de vime. As aberturas favorecem a ventilação natural e a cruzada, extremamente eficaz.
“O que define uma boa acústica não é a intensidade, é a compreensão. Se você entende o barulho, ele incomoda, e isso é ruim; mas se não entende, você se acostuma.”
Edo Rocha
Outro benefício dessas perfurações é com relação à acústica. A absorção do som acontece debaixo da cobertura, quando ele se propaga mais do que difrata ao passar pelos vários tamanhos dos buracos existentes na fachada. “Esse é um fator positivo porque o que define uma boa acústica não é a intensidade, é a compreensão. Se você entende o barulho, ele incomoda, e isso é ruim; mas se não entende, você se acostuma”, explica Edo Rocha.
Cobertura translúcida
Verticalmente são 33 metros entre o piso e o teto que protege 100% das arquibancadas. Com estrutura metálica tubular e telhas zipadas termoacústicas de 10 cm de espessura, a cobertura tem 23,5 mil m² quadrados de área. Dessa extensão, 3 mil metros quadrados tem material translúcido, cujo objetivo é aproveitar melhor e manter a luz solar, reduzindo o uso de lâmpadas. O projeto de iluminação foi realizado pelo luminotécnico Peter Gasperna nas áreas internas, externas e fachadas.
Práticas verdes
O projeto da Arena Palestra Itália implantou uma série de práticas sustentáveis com a finalidade de receber o certificado LEED do Green Building Council. Sob a consultoria do CTE, a construção teve gestão de eficiência energética e de resíduos, com projeto de coleta e utilização de água da chuva na irrigação do gramado. Os resíduos de demolição também tiveram destino certo. Eles foram reaproveitados na própria obra ou em outras construções. Segundo informações do site nova arena (www.novaarena.com.br), a iniciativa poupou 20 mil metros cúbicos de concreto e 4 mil toneladas de aço, material suficiente para levantar um edifício de, aproximadamente, 40 andares. O arquiteto Edo Rocha acrescenta outros pontos diretamente relacionados à sustentabilidade e ao início de uma mudança cultural, como a vigilância no uso de materiais que produzem CO². Um exemplo disso é dar preferência à compra de materiais em localidades próximas à obra, com restrição da quilometragem, queima desnecessária de combustível e, consequentemente, a produção do CO². Outra importante questão é a conservação da energia humana, determinada pela motivação positiva do ambiente sobre o usuário. “Trata de projetar uma obra para o outro se sentir realmente bem, em um lugar agradável, bonito, que o motive a se modificar e até assumir uma função melhor, diferente”, acredita.
“Trata de projetar uma obra para o outro se sentir realmente bem, em um lugar agradável, bonito, que o motive a se modificar e até assumir uma função melhor, diferente.”
Edo Rocha